Certamente você já ouviu dizer que “as palavras ensinam e
os exemplos arrastam”. Na vida financeira não é diferente. Recebo
constantemente jovens, dos seus vinte e poucos a trinta e poucos anos que, na
primeira conversa, relataram algo semelhante: procuraram-me porque gostariam de
ter algumas orientações para não viverem na vida adulta o que viram durante
toda a sua infância.
Então, você leitor do Gazeta da Torre que espera do seu
filho algo diferente do que vive atualmente precisa começar a ver a mudança em
você, dedicar-se e mudar para não se aventurar ensinando aquilo que não pratica
no dia a dia. Não tenha dúvidas, o seu exemplo arrastará seu filho ou sua
filha, proporcionando seguir nos trilhos do que ele vê em você. E isso fica pra
vida!
Mas é claro, além do exemplo, é importante a conversa, de
forma leve e gradativa, no dia a dia, onde a criança não é excluída do assunto e
que, de forma construtiva, vai aprendendo a lidar bem com o dinheiro, entre
erros e acertos de “forma experimental” e assim vai se desenvolvendo.
Seguem então algumas dicas que podem motivar você a
fortalecer esses laços e servir de exemplo:
1)Mostrar pouco a pouco o valor das coisas e relacionar
isso às prioridades do dia a dia. Por exemplo, mostrando que comprando tudo o
que quiser, pode afastar daquela excursão que vocês querem fazer juntos, até
mesmo mostrando o quanto custa aquela viagem legal e como podem se planejar
para atingir aquele valor num prazo que não seja tão longo;
2)Ao dar a mesada, é fundamental combinar com a criança o
que deverá ser pago com o valor, por exemplo, se é apenas para o lanche da
escola e, por dia, ele custa cerca de R$ 5,00. No mês teríamos então a despesa
média, para tal, no valor de R$ 100,00. E seria esse o valor da mesada?
Sugiro que não, pois imagino que na vida você não tem
tudo o que quer, e mesmo que tenha, é importante que a criança precise passar
por algumas situações de escolha. Desta forma, nesse exemplo, é recomendável
que se dê 80 ou 90 reais de mesada, para que ela tenha um pouco menos do que
precisa e em alguns dias do mês leve lanche de casa ou mesmo equilibre as
contas para fazer o dinheiro da mesada cobrir as despesas do mês com o lanche.
E se a criança quiser poupar para outra finalidade, motive-a a levar lanche de
casa mais dias e tentar assim se aproximar do valor que deseja poupar para
outra finalidade.
3)Mas estamos falando de mesada! ...e você conhece a
semanada? ...e a quinzenada? Pois é, antes da mesada, sendo a criança bem
novinha, o ideal é começar pela semanada, uma frequência menor que a mensal e a
quinzenal, isso por volta dos 7 – 8 anos. A depender da maturidade e da relação
da criança com o dinheiro, você vai evoluindo para quinzenada e mesada,
evitando assim que a criança que já começa pela mesada, quebre na 1ª semana ou
antes mesmo da metade do mês e seja penalizada esperando um longo prazo para
receber novamente.
4)Evite negativas mais fortes e que são muito comuns do
dia a dia, tais como: “Não temos dinheiro pra isso!”, “Isso é pra gente
rica...” etc. São palavras que afastam e o deixam definitivamente longe de uma
realidade que não é impossível mudar. Transmitindo discursos assim, certamente
fará com que a criança se limite, quando poderia estar sendo motivada a crescer
junto com os seus pais, através de frases, como: “Filho isso custa caro, mas vamos fazer um
plano para ver quando conseguimos comprar?” ou “Poxa filho, não dá pra comprar
isso agora, mas se você nos ajudar, tenho certeza que conseguiremos!!!”
5)Envolva as crianças nas pequenas ações em casa, como os
cuidados e uso consciente da água, da energia e dos alimentos, evitando
desperdícios e mostrando o impacto que o mal uso desses recursos representa,
não só no aspecto financeiro. Importante conscientizar as crianças que, com
menos despesas, sobra mais dinheiro e isso ajudará a atingir, de forma mais
rápida, os objetivos da família.
6)Evite a chuva de informações e exigências tentando
acelerar o desenvolvimento e compreensão das crianças no universo financeiro,
pois se trata de uma construção que deve ser desenvolvida passo a passo, no dia
a dia.
7)Lições de empreendedorismo, de como podem ganhar
dinheiro. Lembro que uma das minhas primeiras ações sobre isso era fazer um
jornal com notícias de casa, usando um papel carbono para produzir mais cópias
e vender para a família ao final de cada dia. Meus pais eram compradores fiéis
e assim eu começava a me virar e criar. E isso não parou! Explorem mais formas,
motivem o lado criativo e deixem desenvolver as idéias. Essa fase é fantástica
para tudo isso.
8)Pais, estejam atentos ao comportamento de seus filhos e
aproveitem alguns escorregões e determinadas ações para refletir, sejam eles
fruto de um gasto por impulso que terminou atrapalhando a conquista de algo que
era um objetivo, um sonho de fato. Observem comportamentos ao pagar e receber
troco, contar e se certificar que está tudo certo. Motivem a pedir descontos,
negociar e assim valorizar o dinheiro. É importante conversar sobre a diferença
de querer e PRECISAR realmente de alguma coisa. Assim, depois, podem perceber
que aquilo foi fruto de um impulso ou ação de mídia que gerou um desejo frágil.
Tudo isso deve acontecer aos poucos e o nível da conversa
e linguagem varia de acordo com cada criança, com a idade, a maturidade e o
entendimento. Certamente, quanto antes você abordar o tema e iniciar o
processo, melhor será o desenvolvimento da criança nesse aspecto. Sem pressa e com
paciência, as coisas vão avançando e você estará cumprindo o papel de educar o
seu filho ou a sua filha financeiramente. Esse, sim, é um legado, uma herança
que sem dúvida ele(a) jamais esquecerá.
Até a próxima!!!
Leandro Trajano
Siga-me no Instagram @personalfinanceiro